sábado, 5 de novembro de 2011

Apocalipse V

Acordo, mas não totalmente descansado. Durante a noite acordei várias vezes, incomodado pelo cheiro da puta morta. Olho para o meu lado, à procura do outro atrofiado. Sem estar à espera, uma mão tapa-me a boca.
André- Pega numa arma e não faças barulho. Temos companhia lá fora.
Pego na caçadeira, e, com o André, vou para trás de uma mesa. Ouvimos berros, e estes ficam cada vez mais próximos. Deitam a porta abaixo. Olhamos, e vemos três homens a entrar, com um rapaz e uma rapariga amarrados. Num dos três homens, conseguimos ler no colete dele: «César».
César- Vocês pensavam que se safavam filhos da puta? Pensavam?
Tanto o rapaz como a rapariga não responderam, tremendo de medo.
César- Tentam roubar a nossa água, e depois fogem.
Rapariga- Não sabíamos que era vossa.
César- Sabes que mais? Eu não te vou matar...
A rapariga solta um suspiro de alívio.
César- ...mas não sei o que te vai acontecer quando os mortos ouvirem isto.
Rapaz- Isto o quê?
César- Isto!
Ele enfia uma caçadeira na boca do rapaz e rebenta-lhe os cornos. A rapariga não reagiu, horrorizada com o que presenciou.
César- Boa sorte puta!
Os gajos saem, e vão-se embora numa carrinha. Nós saimos de trás da mesa, e vamos ter com a rapariga.
André- Tás bem rapariga?
Ela não responde. Eu corto as cordas que a prendem, e, de repente, ela agarra-se ao corpo do rapaz aos berros.
Eu- Foda-se! André cala-a!
O André tapa-lhe a boca, e segura-a. Eu meto-me à frente dela, e seguro-lhe a cara.
Eu- Olha, provavelmente aquele rapaz devia ser importante para ti, mas a não ser que queiras ser comida viva, cala-te um bocado.
Ela cala-se, e pára de dar pontapés ao André, que já não está a sentir os quilhões.
Eu- Agora temos que ir embora, rápido! Aquele tiro deve ter chamado a atenção a muitos cabrões!
Pegamos nas coisas, e saimos dali. O André vai a correr para um carro.
Eu- O que estás a fazer atrofiado?!
Ele parte a janela, e, surpreendentemente, o carro não tinha o alarme ligado. Ele entra no carro, e faz ligação directa.
André- Entrem!
Apressados, eu e a rapariga entramos no carro.
Eu- Meu grande cabrão! Podias ter feito isso há mais dias não?
André- Já nem me lembrava que sabia fazer isto.
Eu- Parece que os mortos não são os únicos que nos fodem a vida.
André- Aquele filho da puta mandava pinta de prisioneiro.
Eu- Eu aqui a pensar na nossa vida, e tu só te sabes lembrar da pinta do outro cabrão.
No banco de trás, a rapariga continua calada, com algumas lágrimas na cara. Eu viro-me para trás.
Eu- Tens nome?
A rapariga olha para mim, com os seus olhos azuis, mas não me responde.
André- Fala caralho!
Eu- Cala-te filho da puta! Ela ainda está traumatizada!
A viagem continua, calma e silenciosa. Eu continuo a pensar numa coisa: agora não temos apenas que temer os mortos...


BREVEMENTE
APOCALIPSE VI

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