terça-feira, 15 de maio de 2012

Apocalipse XI

Acordo, e, surpreendentemente, dormi bem esta noite. A Daniela ainda dorme, e durante algum tempo não me mexo, para não a acordar. Olho para ela. No rosto dela encontra-se um leve sorriso, enquanto dorme serenamente. O tempo passa, e eu também começo a adormecer, até que ouço tiros no corredor. A Daniela acorda, sobressaltada.
Daniela- Que barulho foi este?
Eu- Temos companhia!
Pego na caçadeira e encosto-me à porta. Ouço alguém a correr, e ouço as lamúrias dos mortos. Os tiros continuam. Abro a porta rapidamente, e não vejo ninguém. O corredor está coberto de cadáveres. Ouço alguém numa sala mais à frente.
Daniela- O que foi?
Eu- Fica aí.
Daniela- Vou contigo.
Eu- Fica aí, e tranca a porta.
Eu aproximo-me da porta da sala, sem saber o que esperar. De repente, saem da sala dois mortos. Rebento os cornos de um deles, e o outro agarra-me. Eu empurro-o contra a parede, e saco do taco. Espeto-lhe uma tacada do caralho nos cornos, e ele cai, todo fodido.
Eu- Há tanto tempo que não fodia os cornos a alguém à tacada.
Ouço um grito. É a Daniela. Vou a correr para a sala onde acampámos. A porta tinha sido forçada, e a Daniela tinha desaparecido. Ouço um vidro a partir-se. O som veio das escadas.
Daniela- BERNARDO !!!
Vou a correr para as escadas, com a caçadeira já pronta. Chego ao andar de baixo, e aparece-me um gajo enorme, com um colete igual aos cabrões que vimos com o César.
Eu- Já estou farto de vocês filhos da puta!
Gajo- Daqui não passas cabrão!
Ele agarra-me, e atira-me pelo corredor. Eu fico sentado, encostado a uma parede.
Gajo- Morre, filho da puta!
Ele abre o colete, e tira uma caçadeira de cano serrado. O cabrão tem uma arma como a minha. Eu levanto-me, e, quando ele está prestes a premir o gatilho, uma porta abre-se, e dezenas de mortos saem da sala.
Gajo- FODA-SE!!
Começamos os dois a disparar como loucos, mas à medida que matamos um ou dois, muitos mais saem de lá. Eu corro para a porta, e tento fechá-la. O outro cabrão vem ajudar-me, e conseguimos fechá-la.
Gajo-Filhos da puta!
Sem pensar duas vezes, disparo contra as pernas dele. Ele cai numa poça de sangue.
Gajo- CABRÃO DE MERDA!!!
Eu- Ainda não me esqueci que me querias matar.
Pego na caçadeira dele, e continuo a andar.
Gajo- FILHO DA PUTA!! EU VOU SAIR DAQUI E VOU MATAR-TE!!
Eu- Não me parece...
Neste momento, a porta cai, e todos os mortos que estavam trancados atiram-se sobre ele. Ele grita de dor e agonia, empurrando e soltando socos, enquanto é devorado vivo. Eu continuo a procurar a Daniela. Desco outras escadas, e encontro uma das soqueiras que ela tinha, numa pequena poça de sangue.
Eu- Parece que ela está a dar luta...
Uma porta fecha-se de repente. Até me borrei todo. Aproximo-me da porta, com cautela, e encosto lá o meu ouvido. Ouço alguém a tentar falar, como se tivesse a boca tapada. Ganho coragem, e arrombo a porta. Dentro da sala está a Daniela, amarrada e com a boca tapada. Corro até ela, e desamarro-a e destapo-lhe a boca.
Daniela- CUIDADO!!!
Levo um estouro nas costas. Caio, e, ao olhar para trás, vejo um gajo alto como o caralho, com um taco na mão, e o colete do César.
Eu- Vocês filhos da puta agora copiam as minhas armas?!
Gajo- Morre!!
Ele vem a correr na minha direcção, pronto para me rebentar os cornos ao estouro. Bloqueio o taco com uma das caçadeiras.
Eu- Sim, morro, mas não é hoje!!
A Daniela espeta-lhe uma soqueirada nas costas, mas ele não cai. Ele vira-se para ela e pega nela pelo pescoço. Eu pego no taco e levanto-me. Ele olha para mim.
Eu- O MEU TACO É MELHOR FILHO DA PUTA!!!
Espeto-lhe o taco nas trombas, e ele cai, imóvel. A Daniela cai, a chorar. Eu agarro-a, e abraço-a.
Eu- Já está tudo bem. Tem calma.
Ela olha para mim, com os olhos a brilhar por causa das lágrimas.
Daniela- Obrigado.


BREVEMENTE
APOCALIPSE XII

domingo, 13 de maio de 2012

Apocalipse X

Encontramo-nos num hospital, barricados numa sala. A Daniela está sentada ao pé da fogueira, e eu estou a olhar pela janela. O silêncio é profundo. As únicas coisas que se ouvem são o estalar das chamas da fogueira e as lamúrias dos cabrões que andam pelos corredores.
Daniela- É tudo tão calado sem ele...
Eu começo a lembrar-me do dia em que o conheci. Comecei por vê-lo apenas como um pacóvio que era feliz a disparar contra tudo que se mexia.
Eu- Queres que te conte uma coisa engraçada?
Ela acena com a cabeça, curiosa.
Eu- Eu conheci-o num hospital, mais ou menos parecido com este, e a primeira coisa que fiz foi chamar-lhe pacóvio.
Daniela- E ele? O que disse?
Eu rio-me, levemente.
Eu- Não teve tempo para dizer nada. Tivemos que passar por um grupo de mortos.
Ela mostra um sorriso leve. O tempo passa rápido, e a noite chega. Eu continuo à janela, até que ouço um suspiro. Olho para trás, e vejo a Daniela a tremer.
Eu- Por favor diz-me que estás a tremer de frio, e que não estás a ter um ataque epilético.
Ela ri-se durante um bocado.
Daniela- Estás com sorte. É de frio.
Eu tiro um cobertor da mochila e tapo-a.
Daniela- E tu?
Eu- Não preciso. E não me serves de nada morta.
Sento-me num dos cantos da sala. Ela levanta-se, e senta-se ao meu lado, tapando-me também, e encostando a cabeça ao meu ombro. Olho para ela, e ela sorri.
Daniela- Também não me serves de nada morto.
O silêncio mantém-se, e ela adormece. Fico acordado durante horas, a pensar, a lembrar-me de ter tido uma vida antes daquela merda toda. Eu era apenas um rapaz normal, com uma vida normal. Estudava, saía com amigos, enfim, tinha uma vida normal. Agora já nem sei se posso chamar a isto vida. O sono chega, e, pouco a pouco, vou cedendo. Vamos ver se passamos desta noite.


BREVEMENTE
APOCALIPSE XI

sábado, 12 de maio de 2012

Apocalipse IX

O céu está sem nuvens, com um tom alaranjado. O número de mortos parece não acabar.
André- Estamos fodidos!
Eu- Cala-te! Olha para eles.
Eles vagueavam, sem rumo, à volta do celeiro.
Daniela- Eles não sabem que estamos aqui.
Eu- Quem é que se sente corajoso neste momento?
André- Em que é que estás a pensar?
Eu- Tenta correr até ao carro, e depois vens até aqui buscar-nos.
André- Posso atropelá-los certo?
Eu- Se ficas feliz com isso, força.
Ele inspira e suspira durante algum tempo, ganha lanço, e atira-se do telhado. Todos os mortos que ali se encontravam começam a persegui-lo.
Eu- CORRE CARALHO!!
André- CHUPAMOS Ó CABRÃO!!!
Ele começa a correr como um desalmado, e, talvez por me ter ouvido a berrar, um dos mortos olha para trás e começa a vir na nossa direcção.
Daniela- Este é meu.
Ela tira-me uma das soqueiras, e desce do telhado. Ele tenta agarrá-la, mas ela desvia-se, e espeta-lhe um soco nos cornos. Ele cai, e fica estendido imóvel.
Daniela- Isto foi fácil.
O morto levanta-se de repente, e agarra-a. Eu pego na caçadeira, e rebento-lhe os cornos.
Daniela- BATES MAL?! PODIAS TER ACERTADO EM MIM Ó CORNO!!
Eu- Não tens de quê.
Ouvimos tiros, e depois uma explosão. O som veio da direcção que o André tomou.
Eu- O que é que ele fez desta vez?
Pegamos nas coisas, e vamos a correr. Chegamos ao lugar da explosão, e vemos os corpos dos mortos, espalhados por todo o lado.
Eu- Ele fodeu-os a todos!!
Daniela- Bernardo...
Eu olho para ela. Ela aponta para um corpo. Aproximo-me do corpo, e é o André.
Daniela- Ele está morto?
Eu- Sim...
Ele levou um tiro na cabeça, e, cortado na cara, está escrito «César».
Eu- Como é que te deixaste matar, azeiteiro?
Daniela- E agora o que fazemos?
Eu- Pega nas armas dele. Vamos continuar.
Perdemos um companheiro de viagem. Agora vai ser tudo mais calmo sem as merdas que ele fazia. Eras um bom homem. Tiveste bem até agora.


BREVEMENTE
APOCALIPSE X