sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Apocalipse VI

A viagem continua. O André passa o tempo a assobiar, a rapariga está encostada à janela, a olhar para a estrada, cheia de destroços. Eu tento pensar numa maneira de falar com ela, mas não consigo pensar, graças aos assobios do André.
Eu- Pára de assobiar...
André- Não me apetece.
Eu- Pára de assobiar...
André- Não, e não podes fazer nada. Não passas de um rapazinho.
Eu tiro as soqueiras do bolso do casaco, e começo a olhar para ele seriamente.
Eu- Não páras de assobiar?
André- Não.
Ele começa a sorrir sarcasticamente, mas, quando olha para mim, o sorriso desaparece.
André- O que vais fazer com as soqueiras?
Eu- Eu? Nada... só te vou meter a dentadura para dentro à soqueirada se não parares de assobiar.
André- Já me calei.
Nisto, consigo notar um leve sorriso na cara da rapariga, e, ao ver isto, começo a sentir-me bem. Talvez seja por ter posto um sorriso na cara dela, ou então, foi por o André se ter calado, mas sinto-me bem. O André pára o carro.
Eu- Porque paraste o carro?
André- Olha...
À nossa frente está um enorme grupo de mortos, a vir na nossa direcção.
André- Podemos sair do carro e tentar matá-los um a um, ou então podemos atropelá-los a todos.
Olhamos um para o outro, e sorrimos. Viro-me para trás.
Eu- Rapariga, eu se fosse a ti segurava-me a alguma coisa.
O André mete o pé no acelerador à força toda, e , num curto espaço de tempo, o carro envolve-se num banho de sangue, tripas, membros, e ficamos com uma cabeça presa numa das rodas. Mostrando um enorme sorriso, o André começa a cantar aos berros.
André- EU NÃO SEI MAS OUVI DIZER, QUE ESTES FILHOS DA PUTA MERECEM SOFRER!!
Ele solta um riso, ainda aos berros, e pára o carro. Eu e ele saimos, olhamos para trás, e vemos um enorme rasto vermelho.
André- Sinto-me tão bem agora.
Eu- És mesmo atrofiado...
André- Já sei onde podemos acampar por agora.
Eu- Onde? E, eu juro que se fôr outra casa de putas, pego numa caçadeira e rebento-te os tomates!!
Ele aponta para o sítio, e à nossa frente, apenas a alguns metros, encontra-se um celeiro.
Eu- Vai ter que servir.
Tiramos as coisas do carro, e eu abro a porta de trás. A rapariga está imóvel e calada.
Eu- Anda. Encontramos um sítio onde podemos acampar.
Ela não me responde, e continua imóvel. Eu pouso as coisas no chão.
Eu- André, vai indo. Nós já vamos lá ter.
Ele vai para o celeiro, e eu entro no carro, ainda a pensar no que dizer à rapariga.
Eu- Tipo, eu entendo porque estás assim. Viste uma pessoa importante para ti ser morta à tua frente, e, vives num mundo onde tens de lutar para viver.
Ela olha pra mim.
Eu- Eu estou na mesma situação que tu. Não tenho razões para continuar a viver, e ando aqui a tentar sobreviver. Se mudares de ideias, vem para o celeiro, ou então podes ficar aqui. A decisão é tua.
Saio do carro, pego nas coisas e vou para o celeiro.
Rapariga- Espera!
Olho para trás, e ela vem ter comigo.
Rapariga- Eu levo uma das mochilas.
Ela tira-me uma das mochilas e vem comigo para o celeiro.
Eu- Já me podes dizer o teu nome?
Ela não me responde, apenas mostra um leve sorriso. Chegamos ao celeiro, e o André não está lá. Apenas estão lá as nossas coisas e uma fogueira.
Eu- Ó atrofiado, onde é que andas?
André- Tou aqui ao lado.
Eu- É bom que não estejas a bater uma punheta outra vez!
André- Tou a dar uma mija!
Eu- Ai de ti se acontecer o mesmo que aconteceu da última vez que foste mijar!
Rapariga- Última vez?
Eu- É uma longa história.
Começo a lembrar-me do André, a correr com as calças nos joelhos e a segurar na gaita. A vontade de me rir é tante que mal me consigo controlar.
Rapariga- Estás a sentir-te bem?
Eu- Estou, apenas me lembrei de uma coisa engraçada.
Sentamo-nos ao pé da fogueira. Chega o André, e senta-se conosco. As horas passam, e nós continuamos a olhar para a fogueira. Já é de noite.
André- Vou dar outra mija.
Eu- Outra?! Tás todo fodido da bexiga!
André- Vai pó caralho!
Ele levanta-se e vai para fora do celeiro.
Rapariga- Ele é sempre assim?
Eu- Infelizmente, é.
Rimo-nos levemente, até que ouvimos um barulho atrás de uma porta.
Eu- André? És tu?
Ninguém responde.
Eu- Ó filho da puta, se tu nos tiveres a tentar assustar vou rebentar-te a gaita com a caçadeira!
Continuo sem ouvir uma resposta. Pego na caçadeira e abro a porta.
Eu- Fica aqui.
A rapariga acena com a cabeça. Eu entro na sala, pronto para rebentar alguma coisa. A sala era usada como arrecadação, e estava escura. Ouço um barulho atrás de mim. Viro-me já com a caçadeira pronta, mas tudo que encontro é um gato.
Eu- Eu odeio gatos...
O caralho do animal começa a bufar, com um ar ameaçador, e sai pela janela. Ouço outro barulho atrás de mim, e ao virar-me, não tenho tempo para disparar. Um morto sai das sombras e agarra-me, enquanto me tenta morder. Tento empurrá-lo com a caçadeira, mas o cabrão tem força. Caio para trás, e o filho da puta em cima de mim, ainda a tentar morder-me. Consigo sentir o bafo dele na minha cara. e tento controlar-me para não vomitar. Começo a pensar que vai ser agora que me fodo, até que um machado trespassa a cabeça dele. Ele rapidamente pára de se mexer. Eu empurro o cadáver para o lado, e vejo-a. Os seus olhos azuis brilham com a pouca luz que há, e o seu cabelo loiro revela um tom reluzente.
Rapariga- Chamo-me Daniela.


BREVEMENTE
APOCALIPSE VII

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