sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Apocalipse VII

Ela estica a mão, e ajuda-me a levantar. Arranco o machado dos cornos do morto.
Eu- Obrigado.
Daniela- De nada. Até soube bem.
Voltamos para a fogueira, e sentamo-nos. Pouco tempo depois, chega o André.
Eu- Caralho, tanto tempo para mijar?
André- Soube-me pela vida, até mijei em cima de um gajo morto, todo podre.
Daniela- És nojento...
O André olha para ela, pasmado.
André- Já falas?
Eu- Eu se fosse a ti ficava calado. Ela fode-te a boca.
André- Ela?
Ele solta um riso sarcástico, até que vê a lâmina do machado coberta de sangue.
André- O que raio estiveram a fazer com o machado?
Eu e ela olhamos um para o outro, e sorrimos.
Eu- Enquanto tu foste sacudir a gaita, nós apanhamos com um morto.
André- E quem o matou?
Daniela- Fui eu.
O André arregala os olhos, e fica com o ar de quem está todo borrado de medo.
Eu- Tás bem?
André- Tou, tou. Só estou com um bocado de sono. Vou dormir.
Ele deita-se, de costas viradas para nós. Eu chego-me mais perto da Daniela.
Eu- Como te sentes?
Ela hesita um bocado em responder.
Daniela- Nem eu sei como me sinto...
Eu- O que aconteceu? Como é que eles te apanharam?
Daniela- Quando os mortos começaram a aparecer, eu e o meu irmão tivemos que fugir. Os nossos pais tinham sido mordidos, e eles próprios morreram, e, sem esperarmos, voltaram a erguer-se. Desde aí, eu e o meu irmão andámos de lugar em lugar, a tentar sobreviver. Ontem encontrámos um poço, e ao tentarmos beber a água, fomos apanhados pelos outros cabrões.
Eu- Algumas pessoas fazem tudo para sobreviver, nem que seja foder a vida dos outros.
Uma lágrima começa a escorrer pela cara dela, e, sem eu esperar, ela abraça-se a mim a chorar. Eu não sei o que fazer ou dizer, apenas fico sem reacção. Ela larga-me, limpa as lágrimas e sorri.
Eu- Vai dormir, precisas de descansar.
Ela deita-se, e, num ápice, adormece. Eu apago a fogueira, e deixo-os a dormir. Saio do celeiro, e no meio da escuridão, ando às voltas. O céu não revela muitas estrelas. Deparo-me com algo inesperado: uma árvore sem folhas, alta, com pelo menos cinco ou seis corpos enforcados, e entre eles encontra-se uma criança, que não tem mais do que três anos pela aparência. No tronco da árvore estão cravadas letras, que escrevem: «Aqui jaz uma família de cabrões. Ass: César».
Eu- Filho da puta...
Ouço um barulho atrás de mim, e sinto uma arma encostada à minha cabeça. Viro-me lentamente, e vejo que quem me está a apontar a arma é um dos cabrões que estavam com o paneleiro do César, quando encontrámos a Daniela.
Gajo- Parece que hoje chego a matar alguém.
Eu- Vai pó caralho.
Ele sorri, com um olhar psicótico, e quando penso que é desta que morro, o sorriso dele desaparece, e uma lâmina trespassa o pecoço dele. Atrás dele, vejo olhos azuis a brilhar na escuridão.
Daniela- Morre filho da puta.
O corpo dele cai, enquanto jorra sangue pelo pescoço.
Daniela- Estás bem?
Eu- Por pouco mas estou. Já é a segunda vez que fodes os cornos a alguém para me ajudar.
Daniela- Não tens de quê.
Voltamos para o celeiro, onde deixamos o André sozinho. Espero que quando chegarmos lá, ele não esteja a bater outra punheta. Chegamos ao celeiro, e o azeiteiro ainda dorme. Deitamo-nos, e tentamos adormecer. A noite está a ser longa.


BREVEMENTE
APOCALIPSE VIII

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Apocalipse VI

A viagem continua. O André passa o tempo a assobiar, a rapariga está encostada à janela, a olhar para a estrada, cheia de destroços. Eu tento pensar numa maneira de falar com ela, mas não consigo pensar, graças aos assobios do André.
Eu- Pára de assobiar...
André- Não me apetece.
Eu- Pára de assobiar...
André- Não, e não podes fazer nada. Não passas de um rapazinho.
Eu tiro as soqueiras do bolso do casaco, e começo a olhar para ele seriamente.
Eu- Não páras de assobiar?
André- Não.
Ele começa a sorrir sarcasticamente, mas, quando olha para mim, o sorriso desaparece.
André- O que vais fazer com as soqueiras?
Eu- Eu? Nada... só te vou meter a dentadura para dentro à soqueirada se não parares de assobiar.
André- Já me calei.
Nisto, consigo notar um leve sorriso na cara da rapariga, e, ao ver isto, começo a sentir-me bem. Talvez seja por ter posto um sorriso na cara dela, ou então, foi por o André se ter calado, mas sinto-me bem. O André pára o carro.
Eu- Porque paraste o carro?
André- Olha...
À nossa frente está um enorme grupo de mortos, a vir na nossa direcção.
André- Podemos sair do carro e tentar matá-los um a um, ou então podemos atropelá-los a todos.
Olhamos um para o outro, e sorrimos. Viro-me para trás.
Eu- Rapariga, eu se fosse a ti segurava-me a alguma coisa.
O André mete o pé no acelerador à força toda, e , num curto espaço de tempo, o carro envolve-se num banho de sangue, tripas, membros, e ficamos com uma cabeça presa numa das rodas. Mostrando um enorme sorriso, o André começa a cantar aos berros.
André- EU NÃO SEI MAS OUVI DIZER, QUE ESTES FILHOS DA PUTA MERECEM SOFRER!!
Ele solta um riso, ainda aos berros, e pára o carro. Eu e ele saimos, olhamos para trás, e vemos um enorme rasto vermelho.
André- Sinto-me tão bem agora.
Eu- És mesmo atrofiado...
André- Já sei onde podemos acampar por agora.
Eu- Onde? E, eu juro que se fôr outra casa de putas, pego numa caçadeira e rebento-te os tomates!!
Ele aponta para o sítio, e à nossa frente, apenas a alguns metros, encontra-se um celeiro.
Eu- Vai ter que servir.
Tiramos as coisas do carro, e eu abro a porta de trás. A rapariga está imóvel e calada.
Eu- Anda. Encontramos um sítio onde podemos acampar.
Ela não me responde, e continua imóvel. Eu pouso as coisas no chão.
Eu- André, vai indo. Nós já vamos lá ter.
Ele vai para o celeiro, e eu entro no carro, ainda a pensar no que dizer à rapariga.
Eu- Tipo, eu entendo porque estás assim. Viste uma pessoa importante para ti ser morta à tua frente, e, vives num mundo onde tens de lutar para viver.
Ela olha pra mim.
Eu- Eu estou na mesma situação que tu. Não tenho razões para continuar a viver, e ando aqui a tentar sobreviver. Se mudares de ideias, vem para o celeiro, ou então podes ficar aqui. A decisão é tua.
Saio do carro, pego nas coisas e vou para o celeiro.
Rapariga- Espera!
Olho para trás, e ela vem ter comigo.
Rapariga- Eu levo uma das mochilas.
Ela tira-me uma das mochilas e vem comigo para o celeiro.
Eu- Já me podes dizer o teu nome?
Ela não me responde, apenas mostra um leve sorriso. Chegamos ao celeiro, e o André não está lá. Apenas estão lá as nossas coisas e uma fogueira.
Eu- Ó atrofiado, onde é que andas?
André- Tou aqui ao lado.
Eu- É bom que não estejas a bater uma punheta outra vez!
André- Tou a dar uma mija!
Eu- Ai de ti se acontecer o mesmo que aconteceu da última vez que foste mijar!
Rapariga- Última vez?
Eu- É uma longa história.
Começo a lembrar-me do André, a correr com as calças nos joelhos e a segurar na gaita. A vontade de me rir é tante que mal me consigo controlar.
Rapariga- Estás a sentir-te bem?
Eu- Estou, apenas me lembrei de uma coisa engraçada.
Sentamo-nos ao pé da fogueira. Chega o André, e senta-se conosco. As horas passam, e nós continuamos a olhar para a fogueira. Já é de noite.
André- Vou dar outra mija.
Eu- Outra?! Tás todo fodido da bexiga!
André- Vai pó caralho!
Ele levanta-se e vai para fora do celeiro.
Rapariga- Ele é sempre assim?
Eu- Infelizmente, é.
Rimo-nos levemente, até que ouvimos um barulho atrás de uma porta.
Eu- André? És tu?
Ninguém responde.
Eu- Ó filho da puta, se tu nos tiveres a tentar assustar vou rebentar-te a gaita com a caçadeira!
Continuo sem ouvir uma resposta. Pego na caçadeira e abro a porta.
Eu- Fica aqui.
A rapariga acena com a cabeça. Eu entro na sala, pronto para rebentar alguma coisa. A sala era usada como arrecadação, e estava escura. Ouço um barulho atrás de mim. Viro-me já com a caçadeira pronta, mas tudo que encontro é um gato.
Eu- Eu odeio gatos...
O caralho do animal começa a bufar, com um ar ameaçador, e sai pela janela. Ouço outro barulho atrás de mim, e ao virar-me, não tenho tempo para disparar. Um morto sai das sombras e agarra-me, enquanto me tenta morder. Tento empurrá-lo com a caçadeira, mas o cabrão tem força. Caio para trás, e o filho da puta em cima de mim, ainda a tentar morder-me. Consigo sentir o bafo dele na minha cara. e tento controlar-me para não vomitar. Começo a pensar que vai ser agora que me fodo, até que um machado trespassa a cabeça dele. Ele rapidamente pára de se mexer. Eu empurro o cadáver para o lado, e vejo-a. Os seus olhos azuis brilham com a pouca luz que há, e o seu cabelo loiro revela um tom reluzente.
Rapariga- Chamo-me Daniela.


BREVEMENTE
APOCALIPSE VII

sábado, 5 de novembro de 2011

Apocalipse V

Acordo, mas não totalmente descansado. Durante a noite acordei várias vezes, incomodado pelo cheiro da puta morta. Olho para o meu lado, à procura do outro atrofiado. Sem estar à espera, uma mão tapa-me a boca.
André- Pega numa arma e não faças barulho. Temos companhia lá fora.
Pego na caçadeira, e, com o André, vou para trás de uma mesa. Ouvimos berros, e estes ficam cada vez mais próximos. Deitam a porta abaixo. Olhamos, e vemos três homens a entrar, com um rapaz e uma rapariga amarrados. Num dos três homens, conseguimos ler no colete dele: «César».
César- Vocês pensavam que se safavam filhos da puta? Pensavam?
Tanto o rapaz como a rapariga não responderam, tremendo de medo.
César- Tentam roubar a nossa água, e depois fogem.
Rapariga- Não sabíamos que era vossa.
César- Sabes que mais? Eu não te vou matar...
A rapariga solta um suspiro de alívio.
César- ...mas não sei o que te vai acontecer quando os mortos ouvirem isto.
Rapaz- Isto o quê?
César- Isto!
Ele enfia uma caçadeira na boca do rapaz e rebenta-lhe os cornos. A rapariga não reagiu, horrorizada com o que presenciou.
César- Boa sorte puta!
Os gajos saem, e vão-se embora numa carrinha. Nós saimos de trás da mesa, e vamos ter com a rapariga.
André- Tás bem rapariga?
Ela não responde. Eu corto as cordas que a prendem, e, de repente, ela agarra-se ao corpo do rapaz aos berros.
Eu- Foda-se! André cala-a!
O André tapa-lhe a boca, e segura-a. Eu meto-me à frente dela, e seguro-lhe a cara.
Eu- Olha, provavelmente aquele rapaz devia ser importante para ti, mas a não ser que queiras ser comida viva, cala-te um bocado.
Ela cala-se, e pára de dar pontapés ao André, que já não está a sentir os quilhões.
Eu- Agora temos que ir embora, rápido! Aquele tiro deve ter chamado a atenção a muitos cabrões!
Pegamos nas coisas, e saimos dali. O André vai a correr para um carro.
Eu- O que estás a fazer atrofiado?!
Ele parte a janela, e, surpreendentemente, o carro não tinha o alarme ligado. Ele entra no carro, e faz ligação directa.
André- Entrem!
Apressados, eu e a rapariga entramos no carro.
Eu- Meu grande cabrão! Podias ter feito isso há mais dias não?
André- Já nem me lembrava que sabia fazer isto.
Eu- Parece que os mortos não são os únicos que nos fodem a vida.
André- Aquele filho da puta mandava pinta de prisioneiro.
Eu- Eu aqui a pensar na nossa vida, e tu só te sabes lembrar da pinta do outro cabrão.
No banco de trás, a rapariga continua calada, com algumas lágrimas na cara. Eu viro-me para trás.
Eu- Tens nome?
A rapariga olha para mim, com os seus olhos azuis, mas não me responde.
André- Fala caralho!
Eu- Cala-te filho da puta! Ela ainda está traumatizada!
A viagem continua, calma e silenciosa. Eu continuo a pensar numa coisa: agora não temos apenas que temer os mortos...


BREVEMENTE
APOCALIPSE VI

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Apocalipse IV

Olho para a fogueira. As suas chamas revelam uma beleza incapaz de ser explicada. Eu e o outro atrofiado tivemos que encontrar um sítio para passar a noite, e o pior de tudo é que eu deixei-o escolher o sítio. Agora estamos barricados na sala VIP de uma casa de putas.
Eu- É a última vez que te deixo escolher um sítio para passarmos a noite...
André- Olha à tua volta! É uma casa de putas! É um sonho!
Eu- Uma casa de putas, mas semj putas...
André- Desmancha-prazeres...
Ele levanta-se, entra numa sala ao lado da nossa, que também barricámos, por precaução. Eu continuo a olhar para a fogueira. As horas passam, as chamas vão diminuindo, e sou acompanhado pelo silêncio, até o outro atrofiado se lembrar e começar a gemer.
Eu- O que raio andas a fazer filho da puta?!
Levanto-me, e vou, todo fodido da paciência, ter com o cabrão. Chego lá, e o sacana tinha acabado de bater uma punheta.
Eu- Não acabaste de fazer o que estou a pensar, pois não?
André- Tinha que dar uso a todos estes posters e revistas não?
Eu- É a segunda vez que estás à minha frente com as calças para baixo e a gaita de fora. À terceira vez eu juro que pego na soqueira e te meto a pissa para dentro ao estouro...
André- Tanta agressividade rapaz!!
Dito isto, ouvimos qualquer coisa a partir.
Eu- Puxa a merda das calças para cima e pega numa arma.
Todo borrado, o André pega numa das pistolas, e vamos para a beira da fogueira.
Eu- O que achas que é?
André- Com alguma sorte é uma puta ainda viva!
Ouvimos passos, e como se o facto de não sabermos o que era não bastasse, o André caga-se, mas caga-se todo mesmo. Mais uma vez, não sei se hei-de me partir a rir, ou se fico todo borrado de medo.
André- ALI!
Olhamos para um canto escuro, e das sombras sai uma morta-viva, em lingerie. Esburacamos a puta, eu de caçadeira, e o André de pistola. Ela cai numa poça de sangue, e nós, com cautela, aproximamo-nos do corpo. Olho para os pulsos cortados dela.
Eu- Ela deve ter sido mordida, e sabia que se ia transformar nisto. Deve-se ter tentado matar.
O André continua calado. Eu olho para ele seriamente.
Eu- Azeiteiro, ouviste o que eu disse?
André- Não, mas só te digo uma coisa: QUE GRANDES MAMAS!!
Eu continuo a olhar para ele seriamente.
André- Achas que era muito mau se eu enrabasse uma morta?
Ele olha para mim, à espera de uma resposta. Eu continuo calado, a olhar para ele seriamente.
André- Sim, tens razão. Era mau.
Tapamos o corpo com uma cortina, e sentamo-nos ao pé da fogueira.
Eu- Como é que era a tua vida antes desta merda toda?
Ele continua calado, e não me responde. Ele deita-se, mas eu ainda continuo sentado, a olhar para a fogueira. Espero que consigamos passar desta noite. Ele já dorme, e ressona alto como o caralho...


BREVEMENTE
APOCALIPSE V

domingo, 23 de outubro de 2011

Apocalipse III

Já passaram dois dias desde que conheci o pobre coitado, e nesses dois dias tivemos sorte. Neste momento estamos a andar pelo meio dos destroços de uma auto-estrada. Dentro dos carros vejo cadáveres, não mortos-vivos, mas cadáveres sem vida. No chão, à minha frente, está uma criança, deitada no chão, com um aspecto quase irreconhecível, como se alguém a tivesse comido, ou alguma coisa.
André- Achas que os filhos da puta que fizeram isto ainda andam por aqui?
Eu- Porque dizes que são mais do que um?
André- Olha para o corpo!! Foi desmembrado!
Não lhe dou uma resposta. Apenas fico a pensar no fim que aquela criança teve. Pode ter morrido num acidente, e a seguir foi comida por animais. Ou então foi comida viva... foi um banquete, nada mais nada menos do que um banquete para aqueles cabrões. Não consigo imaginar a dor e a agonia que sentiu.
André- Vou dar uma mija.
Eu- Vai lá com o caralho.
Ele desaparece no meio dos destroços de um camião. Eu olho à minha volta, à procura de alguma merda que me dê jeito, e tenho alguma sorte. Encontro um machado, e assim do nada, começo a sorrir. Agora que venha um daqueles cabrões. Abro-lhe os cornos à machadada, e depois ainda lhe mijo em cima.
André- BERNARDO!! ESTÁ NA HORA DE IRMOS!!
Olho para trás e vejo um grupo deles a vir na minha direcção, e o azeitolas do André a correr, com as calças nos joelhos, e a segurar na pila. Começo a pensar se corro, ou se me deito no chão a rir-me. Isto é uma daquelas coisas que só acontece uma vez na vida.
André- CORRE RAPAZ!!!
Ele passa por mim a correr, e eu sigo-o. Corremos uns valentes metros, mas os cabrões, embora não corram, também não se cansam. O cansaço chega, e começamos a sucumbir, ofegantes.
André- Já chega disto!!
Ele tira a mão da gaita, e , da mochila, tira duas granadas.
André- Comam isto paneleiros!!
Surpreendentemente, os mortos vão atrás das granadas, e de repente, a estrada fica coberta de sangue, tripas, estômagos, e também vejo quilhões ali espalhados, pelo menos parecem quilhões.
André- CHUPEM FILHOS DA PUTA!! DÁ-ME UM ABRAÇO!!
Olho para ele, seriamente.
Eu- Puxa as calças para cima...
André- Já me esquecia.
Ele puxa as calças para cima, e seguimos caminho. Temos que encontrar um sítio seguro para passar a noite. O barulho das granadas deve ter chamado a atenção a muitos cabrões. Espero que esteja errado...


BREVEMENTE
APOCALIPSE IV

sábado, 22 de outubro de 2011

Apocalipse II

Acordo, ainda vivo na sala de hospital. A noite foi passada com pesadelos, pesadelos sobre quando me tornei neste viajante pós-apocalíptico. Durante a noite fui acordando de vez em quando, com as lamúrias dos filhos da puta que andam lá fora. Levanto-me e, lenta e silenciosamente, dirijo-me à porta. Encosto o meu ouvido à porta, para saber se é seguro sair dali. Não ouvi nada. Ao sair, vi um deles ao fundo do corredor, metade dele quero eu dizer, a arrastar-se pelo chão. Aproximo-me dele com cautela, olhando para todos os cantos. Ainda me aparecem mais cabrões. Ao chegar à frente dele olho para ele, calmamente, enquanto ele se arrasta na minha direcção. Sem hesitar, enfio o meu taco no crâno dele, e não paro enquanto ele se continuar a mexer. Olho para o corpo, agora imóvel, mergulhado numa poça de sangue.
Eu- Miserável...
Ouço um barulho na sala ao lado. Parece que alguém anda a mexer nos armários. Pode ser fruto da minha imaginação, ou então pode ser algum sobrevivente. No último dos casos, podem ser mortos a querer chutar pa veia. Aproximo-me com cautela da porta, com o taco pronto para partir os cornos a alguém. Entro rapidamente, e deparo-me com um gajo armado até aos dentes.
Gajo- Caralho, não há aqui nada...
Ele vira-se, e , naõ estando à espera que eu estivesse ali, assusta-se. Fica a olhar para mim de cima a baixo, e depois começa a lembrar-se.
Gajo- Tu outra vez?!
Eu- Ainda te lembras de mim?
Eu já me tinha cruzado com ele uns dias antes. Acho que foi numa bomba de gasolina, eu estava à procura de mantimentos, e apareceu-me este pobre coitado. Ficámos um à frente do outro, a trocar olhares frios. Ele tirou o cigarro da boca, mostrou um leve sorriso, e depois continuámos a seguir o nosso caminho.
Gajo- Andas a seguir-me?!
Eu- Sim, claro. O mundo acabou e eu ando a seguir um pacóvio...
Gajo- Se eu quiser, aqui e agora, encho-te os cornos de chumbo!!
Eu- Faz isso, e depois aguentas-te com os cabrões que ouvirem o tiro.
Gajo- Acho que não vai chegar a tanto...
Ele aponta para trás de mim. Eu olho, e vejo dezenas daqueles filhos da puta a vir na nossa direcção.
Gajo- Toma isto puto.
Ele dá-me duas soqueiras e da mochila tira uma caçadeira de cano serrado.
Eu- E tu?
Ele abre o casaco e tira duas pistolas. Eu prendo o taco às costas, e, já com uma soqueira em cada mão, carrego a caçadeira.
Gajo- Tens nome?
Eu- Bernardo, e tu?
Gajo- André.
Eu- Nome gay...
Dito isto, rebento os cornos a um, parto os dentes a outro, e é sempre a abrir. O outro diverte-se com as pistolas, e começa a cantar enquanto dispara alegremente.
Eu- De todos os filhos da puta neste mundo, tinha que me calhar um atrofiado.
Enfio a caçadeira na boca de um e rebento-lhe as trombas. Assim que abrimos caminho, foi fácil. Começamos a correr pelas escadas abaixo. Saio do hospital, com o atrofiado atrás de mim. Ele senta-se, todo fodido.
Eu- Tás a ficar velho.
Ele apenas sorri e mostra-me o dedo do meio. Eu retribuo, fazendo o mesmo.
Eu- Vamos embora. Todos os mortos destas redondezas devem ter ouvido os tiros.
André- É melhor.
Ele levanta-se, guarda uma pistola em cada lado do casaco, e pomo-nos a andar.
André- Parece que agora tenho companheiro de viagem.
Eu- Tá calado!
Bem, parece mesmo que agora vou ter de aturar este sacana.


BREVEMENTE
APOCALIPSE III

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Apocalipse I

Olho para o céu, deitado no topo de um prédio. As nuvens parecem formar figuras, figuras que nos relembram de como era o mundo, cheio de vida. Talvez foi por cause do Homem destruir a Natureza, ou talvez foi uma simples coincidência, mas o mundo desistiu de nós.
Agora, o mundo adormeceu. As cidades estão abandonadas, abandonadas de vida quero eu dizer. Eles encontram-se em todo o lado. Neste momento, estou a descer as escadas, e um deles está a arrastar-se atrás de mim. Tudo começou há uns dias, ou semanas, ou talvez meses, não me lembro bem. A morte recuou os seus passos, e nesse momento, enquanto estava com a minha tia no cemitério, a visitar a campa dos meus avós, vi-os a levantarem-se, lentamente, todos eles. A minha tia morreu nesse dia, morta pelos mortos. Desde esse dia, eu vagueio sozinho pelo mundo, eu e o meu taco de basebol, que mais tarde decorei com pontas de lâminas.
Se houver sobreviventes, ainda bem para eles, desde que não se metam na minha sobrevivência. Agora dirijo-me para fora da cidade. O outro pobre coitado que se arrastava atrás de mim parou. Deixei-o brincar com o meu taco. Agora é cada um por si, até eu morrer.
A noite está a cair, preciso de um sítio onde ficar. Acho que me encontro num hospital. O chão está coberto de vidro partido, seringas, enfim, tudo aquilo que se encontraria num hospital. Barrico-me numa sala, e dirijo-me para o primeiro armário que me aparece, para encher a mochila com os medicamentos que encontrar. Sento-me num dos cantos da sala, fitando as manchas de sangue que se encontram espalhadas pelas paredes.
Enquanto as horas passam, o céu vai escurecendo. Consigo ouvi-los no corredor, a vaguear de um lado para o outro, a emitir barulhos. Podem apenas estar a tentar assustar-me, ou então estão a lamentar-se de tudo, a queixarem-se do facto de não lhes ser concedido o direito de dormir o sono eterno. Agarro o meu taco com cada vez mais força, à espera que um daqueles sacanas consiga entrar, mas, por fim, o sono chega.
Isto é o que resta da minha vida, isto é a minha história.


BREVEMENTE
APOCALIPSE II

APOCALIPSE

APOCALIPSE é uma história criada por mim, sobre a sobrevivência de um adolescente num mundo pós-apocalíptico, povoado por mortos-vivos. Contém linguagem forte e poderá ofender os leitores.