domingo, 13 de maio de 2012

Apocalipse X

Encontramo-nos num hospital, barricados numa sala. A Daniela está sentada ao pé da fogueira, e eu estou a olhar pela janela. O silêncio é profundo. As únicas coisas que se ouvem são o estalar das chamas da fogueira e as lamúrias dos cabrões que andam pelos corredores.
Daniela- É tudo tão calado sem ele...
Eu começo a lembrar-me do dia em que o conheci. Comecei por vê-lo apenas como um pacóvio que era feliz a disparar contra tudo que se mexia.
Eu- Queres que te conte uma coisa engraçada?
Ela acena com a cabeça, curiosa.
Eu- Eu conheci-o num hospital, mais ou menos parecido com este, e a primeira coisa que fiz foi chamar-lhe pacóvio.
Daniela- E ele? O que disse?
Eu rio-me, levemente.
Eu- Não teve tempo para dizer nada. Tivemos que passar por um grupo de mortos.
Ela mostra um sorriso leve. O tempo passa rápido, e a noite chega. Eu continuo à janela, até que ouço um suspiro. Olho para trás, e vejo a Daniela a tremer.
Eu- Por favor diz-me que estás a tremer de frio, e que não estás a ter um ataque epilético.
Ela ri-se durante um bocado.
Daniela- Estás com sorte. É de frio.
Eu tiro um cobertor da mochila e tapo-a.
Daniela- E tu?
Eu- Não preciso. E não me serves de nada morta.
Sento-me num dos cantos da sala. Ela levanta-se, e senta-se ao meu lado, tapando-me também, e encostando a cabeça ao meu ombro. Olho para ela, e ela sorri.
Daniela- Também não me serves de nada morto.
O silêncio mantém-se, e ela adormece. Fico acordado durante horas, a pensar, a lembrar-me de ter tido uma vida antes daquela merda toda. Eu era apenas um rapaz normal, com uma vida normal. Estudava, saía com amigos, enfim, tinha uma vida normal. Agora já nem sei se posso chamar a isto vida. O sono chega, e, pouco a pouco, vou cedendo. Vamos ver se passamos desta noite.


BREVEMENTE
APOCALIPSE XI

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